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O livro que levou à proibição do uso de DDT, um inseticida altamente nocivo
Sobre Categoria: Livro Título: Primavera Silenciosa – do inglês, Silent Spring Autora: Rachel Carson Ano de publicação: 1962, republicado em 2012 Editora: Crest Book Páginas: 304 |

Primavera Silenciosa é um daqueles livros que muitas pessoas já devem ter ouvido falar, mas poucos chegaram a ler. Até cerca de uns anos atrás, isso também era verdade para mim e posso dizer que trata-se de um livro muito poderoso.
A autora Rachel Carson nasceu em 1907 e, desde criança, tinha uma grande admiração pela natureza. Especialmente por esse fator, em 1937 Carson se graduou e se tornou bióloga aquática iniciante no Departamento de Pesca, uma das duas únicas mulheres profissionais daquela região. Rachel obteve também o título de mestre em Zoologia, focado em estudos marítimos.
Na década de 1950, o seu foco principal relacionado às atividades marinhas mudou para questões mais amplas de conservação, especialmente sobre o uso crescente de pesticidas manufaturados, publicando como uma de suas obras o livro Primavera Silenciosa, no ano de 1962.
Embora seja um livro que pode ser lido por leigos no assunto, Primavera Silenciosa traz uma grande quantidade de pesquisas e dados que podem ser confirmados nas 42 referências que a autora cita, apresentando muito rigor científico e recebendo, assim, uma opinião pública amplamente favorável.
Em uma era das famosas fake news (confira mais sobre em: https://ilhadoconhecimento.com.br/fato_fake/), poder verificar dados é algo de extrema importância!
O que então o livro nos diz?
Carson escolheu apresentar seu livro com um cenário fictício: o interior americano em uma primavera e o súbito desaparecimento de pássaros e outros animais selvagens, portanto, uma primavera silenciosa.
Ao longo dos dezesseis capítulos, a autora explica como esta possibilidade, na sua opinião, se mostra como um cenário futuro possível, a menos que fossem tomadas medidas para reduzir a utilização de pesticidas e herbicidas químicos fabricados.
Inicialmente, ela explica a invenção dos dois principais grupos de produtos químicos industriais:
• hidrocarbonetos clorados (sendo o mais conhecido o DDT, dicloro-difenil-tricloroetano);
• à base de fósforo orgânico (por exemplo, paration).
Ela argumenta que estes produtos, em grande parte inventados para fins militares a fim de se prevenir doenças transmitidas insetos vetores de agentes etiológicos, foram utilizados após o fim da Segunda Guerra Mundial numa guerra diferente: a guerra contra as pragas causadas por insetos.
A autora nos fornece diversos fatos dessa guerra química, como:
• diminuição de populações de formigas e lagartas com pouco potencial nocivo;
• poluição de águas subterrâneas;
• contaminação de solo;
• morte e doenças em salmões migratórios, aves aquáticas e pássaros canoros;
• dizimação de cercas-vivas por herbicidas;
• resistência aos inseticidas por parte dos insetos.
Carson inclui também uma análise dos danos causados à saúde humana, detalhando casos de exposição acidental de trabalhadores ao DDT e danos conhecidos e/ou suspeitos (incluindo câncer) resultantes do manuseio ou consumo de plantas ou animais afetados pelo uso de produtos químicos, questionando a introdução rápida e a grande quantidade de utilização dos mesmos, sem testes de efeitos a longo prazo das substâncias.
Ao longo do livro, Carson nos dá uma visão de sua filosofia sobre os seres vivos e, especialmente, da ideia de equilíbrio na natureza:
“…um sistema complexo, preciso e altamente integrado de relações entre seres vivos que não pode ser ignorado com segurança, assim como a lei da gravidade não pode ser desafiada impunemente por um homem empoleirado na beira de um penhasco” (tradução livre).
Nesse sentido, a autora lembra continuamente que ignorar a natureza e agir como se o papel especial da humanidade fosse conquistá-la pode levar a surpresas muito desagradáveis. Carson argumenta, então, que ciência e ética andam juntas, lembrando da necessidade de adoção de medidas sustentáveis, em favor de uma abordagem que englobe a biodiversidade, e de sempre lembrarmos que temos uma dívida com a natureza.
A autora levanta também outras duas questões desconfortáveis:
• a da investigação científica independente – já que a maior parte das pesquisas são financiadas por grandes empresas, devido à interesses comerciais, podendo levar a vieses de pesquisas, evitando estudos sobre os malefícios ao ambiente e aos seres humanos, como em outros casos, podendo-se citar a pandemia de opioides norte-americana, abordada em séries e filmes, como por exemplo na série Império da Dor (Netflix) e no documentário The Crime of the Century (HBO);
• a da saúde pública – acreditando não estar convencida que os especialistas compreendam o impacto total, a nível genético e celular, da poluição química na nossa água, no nosso ar e talvez nos nossos alimentos, através de práticas industriais e agrícolas, de aditivos alimentares e mesmo de medicamentos.
Apesar do cenário negativo, devido ao alto reconhecimento e aos dados trazidos, o livro levou à proibição quase universal do DDT e à restrição no uso de outros produtos químicos industriais e à ampliação das discussões sobre a poluição ambiental.
Primavera silenciosa pode ser considerada uma obra atual, justamente pelo panorama global que estamos vivenciando. Dentre os diferentes exemplos, o aquecimento global merece destaque; tal ação eleva a temperatura média dos oceanos e da atmosfera da Terra, interferindo diretamente em todas as formas de vida devido ao uso indiscriminado da natureza pelo homem.
Ademais dentre os exemplos e argumentos elencados no livro, há lições atemporais que precisamos reexaminar de forma urgente. Edward O. Wilson revela que tais lições são atemporais porque a batalha que Rachel Carson ajudou a travar em favor do meio ambiente está longe de ter sido ganha.
Apesar dos riscos alertados em uma obra escrita há mais de 60 anos, o uso e a liberação de novos agrotóxicos continuam como pauta das agendas políticas no Brasil e no mundo, privilegiando interesses econômicos em detrimento da saúde da população e da conservação da natureza.
Colaboradora:
Nathália Amato Khaled sobre a autora
Nathália é perita criminal, professora, doutora em genômica e bioinformática, mestre em imunologia e graduada em Biomedicina. Fascinada pela área forense desde os 11 anos de idade, atua na mesma e vê na educação, aliada à ciência, as possibilidades de mudanças significativas para a sociedade. Nathália também é responsável pelo desenvolvimento do website e gestão de conteúdo na Ilha do Conhecimento.
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(Editoração: Priscilla Elias Ferreira da Silva)